A besta de gévaudan
A BESTA DE GÉVAUDAN
Como se trata de uma criatura relativamente nova na série (relativamente porque é um lobisomem, porém, diferente) os detalhes que sabemos a respeito dela em Teen Wolf são pouquíssimos. Por isso, não vamos arriscar muitos palpites por aqui. Mas se não vai palpitar, não vai criar teoria, vai fazer o que dessa vida então? Voltemos no tempo para explorarmos melhor a origem dessa história. Gévaudan é uma região do Sul da França. Nessa região, era bem conhecido pela população que os ataques de lobos a rebanhos eram comuns e frequentes.
Ataques e Mortes
Mas no século XVIII, em 30 de junho de 1764, Jeanne Boulet, uma jovem de 14 anos é encontrada morta com marcas de arranhões e mordidas. Poderia parecer mais um caso comum de ataques de animais, entretanto, os lobos não costumavam atacar as pessoas, apenas os animais do rebanho e, esse era o primeiro registro de morte desse tipo.
Outro fator é que, segundo relatos, o corpo da jovem foi encontrado mutilado violentamente e seu coração havia sido devorado.
A partir de então, várias outras mortes passaram a ocorrer. Não é possível saber com exatidão o número de vítimas. Enquanto algumas fontes estimavam no máximo 100, outras falavam em 200. Mesmo assim, podemos ter uma visão clara de que são números muito altos se tratando de um animal só, levando em conta que o padrão dos ataques era sempre o mesmo. Corpos parcialmente devorados, marcas de garras e mordidas que indicam extrema violência.
Descrição da criatura
![Gevaudanwolf](https://bipolaridadesoficial.files.wordpress.com/2015/12/gevaudanwolf.jpg?w=620)
Gravura representando a besta
De início, a única forma de saber qual era a aparência da criatura seria analisando seus ataques por meio dos cadáveres encontrados. Mas isso começou a mudar quando algumas pessoas conseguiram escapar de ataques, afirmando se tratar de um lobo enorme, muito maior que o normal.
O número de ataques crescia e parecia espantoso demais para serem realizados por um único animal. De fato, muitos passaram a suspeitar que poderia haver mais de um único lobo desse tamanho, talvez até uma alcateia.
Relatos assim ganharam mais força quando dois boatos de ataques eram contados por testemunhas que estavam ao mesmo tempo em lugares completamente diferentes. Outros acreditavam ter visto um homem desconhecido acompanhando a criatura e indicando quem ela deveria atacar.
Desse modo, as histórias a respeito do animal começaram a ganhar outro aspecto.
Surge um Lobisomem em Gévaudan
![Gevaudan 5](https://bipolaridadesoficial.files.wordpress.com/2015/12/gevaudan-5.jpg?w=620)
Não parecia normal um animal comum conseguir matar tantas pessoas seguindo uma espécie de padrão. Assim, muitos passaram a acreditar que não haveria chance de se tratar de um lobo qualquer.
Como modo de defesa. Muito se aventuravam pela floresta em busca da criatura. Caçadores também buscavam matar a fera para que a paz fosse restaurada. Porém, os rastros se perdiam, armadilhas nunca davam certo e mesmo se tratando de um animal de porte grande, ele conseguia fugir com muita rapidez e eficácia.
Quem conseguia dar de cara com o lobo e atirar contava que mesmo o atingindo com diversos projéteis, nenhum era capaz de derrubá-lo. E os relatos apenas aumentaram a crença num lobisomem rondando Gévaudan.
O Rei Responde aos Apelos do Povo
Muitos boatos sempre chegavam aos ouvidos do rei e, nesse caso não foi diferente. Luis XV se viu obrigado a responder os insistentes pedidos de ajuda dos camponeses, mesmo estando concentrado nas guerras entre as colônias da América e a Inglaterra. Com isso, foi organizada uma grande caçada e Luis XV ofereceu uma grande recompensa para quem conseguisse matar a fera, fazendo com que caçadores de muitas regiões aparecessem em Gévaudan.
A suposta “Besta” é morta
![Escultura](https://bipolaridadesoficial.files.wordpress.com/2015/12/escultura1.jpg?w=620)
![Besta claws](https://bipolaridadesoficial.files.wordpress.com/2015/12/besta-claws.png?w=620)
![Parede Besta vs cão](https://bipolaridadesoficial.files.wordpress.com/2015/12/parede-besta-vs-cc3a3o.jpg?w=620)
![Colar Allison](https://bipolaridadesoficial.files.wordpress.com/2015/12/colar-allison.jpg?w=620)
![La Bete picture](https://bipolaridadesoficial.files.wordpress.com/2015/12/la-bete-picture.png?w=620)
Escultura representando a morte da Besta de Gévaudan
Finalmente em 21 de setembro de 1765, mais de um ano depois do início dos ataques, Antoine de Beauterne consegue abater o animal. Ele era um famoso taxidermista parisiense que havia caçado em diversas partes do mundo.
A tal criatura era um lobo espantosamente grande. Tinha 1,83 de comprimento e 87 centímetros de altura, pesando 90 quilos. Assim, se tornando facilmente maior que muitas pessoas.
O homem levou o animal morto até o rei, mas seus métodos de conservação não foram o suficiente para manter o corpo do lobo em bom estado. Tudo o que sobrou foram dentes, orelhas e rabo, sendo o resto queimado e enterrado ao redor do vilarejo.
Mesmo assim, Antoine foi recebido como herói e se tornou muito rico e famoso.
Novos Ataques
![la bete du gevaudan](https://bipolaridadesoficial.files.wordpress.com/2015/12/la-bete-du-gevaudan.jpg?w=620)
Passou-se pouco mais de um ano após a morte do grande lobo. Parecia certo que não haveriam mais preocupações desse tipo. Até que na primavera de 1967 duas crianças desapareceram e o corpo de uma mulher foi encontrado sem cabeça.
Antoine foi chamado, mas dessa vez, segundo suas análises, os ataques estariam sendo realizados por um homem. Alimentando novamente os boatos sobre um lobisomem.
Mas em 19 de junho de 1967, Jean Chastel matou a criatura, dizendo ter usado uma bala de prata benzida por um padre (o que originou a história de que lobisomens só podem ser mortos com prata). Quando encontraram restos humanos no estômago do animal, Chastel se tornou famoso pelo feito. Mas novamente, os métodos de conservação não foram de ajuda e os restos da segunda criatura foram queimados.
A Farsa
Porém, o animal que Chastel matou era diferente. Em 1979 foram encontradas algumas partes da fera que foi morta por ele e constatado que se tratava de uma hiena. Essa espécie específica vivia nas regiões do Norte da África, Oriente Médio e parte da Ásia.
Com isso, em 2009 o History Channel exibiu um programa chamado “The Real Wolfman”, investigando cuidadosamente o caso de Chastel.
Visto que se tratava de uma hiena, o animal poderia ter sido solto na floresta após ser recusado no zoológico ou, rumores indicam que o pai de Chastel possuía uma Hiena. Esse rumor leva pesquisadores a levantarem a hipótese de Chastel ter usado esse animal para instigar os boatos sobre um lobisomem e depois se auto-promover.
Assim sendo, isso coloca em questão quem seria o autor da segunda leva de ataques, sendo Chastel o mais óbvio. Testes foram realizados com atiradores profissionais usando balas de prata. O resultado mostrou que o projétil tem poder destrutivo bem menor que um projétil comum e é menos certeiro, tornando improvável que Chastel, conforme havia relatado, atingisse o animal com um único tiro no coração.
Mas tratam-se apenas de hipóteses e a história comprova que as mortes são reais e foram causadas por feras.
A Besta de Gévaudan em Teen Wolf
Além da silhueta (imagem no topo do post) as garras são outro detalhe até agora revelado
E o tal lobisomem famoso terá participação especial em Teen Wolf. Como muitos comentaram e realmente faz sentido, ‘La Bête’ parece se tratar do êxito falado pelos Dread Doctors, que após várias tentativas usando as Quimeras, podem ter seus planos em ação definitivamente.
Não sabemos qual o objetivo desses novos vilões, mas se realmente foram eles os responsáveis pela Besta de Gévaudan, aguardem grandes revelações nos dez episódios que teremos até o fim da temporada.
Luta entre o Hellhound (Cão do Inferno) e La Bête
A pintura que vimos na parede mostra que tanto essa criatura como o Hellhound terão um momento épico e importante. Vale ressaltar que o Hellhound é o policial Parrish, então para aqueles que esperavam mais foco nele, podem aguardar! E realmente vai ser muito interessante entender mais sobre as duas criaturas.
Colar que Allison Argent recebe da tia Kate Argent (Jill Wagner) na primeira temporada
Logo na primeira temporada descobrimos que a origem da familia Argent está relacionada com a Besta de Gévaudan. Allison (Crystal Reed) conta um pequeno trecho de sua pesquisa para Lydia (Holland Roden), falando sobre o que descobriu a respeito dos Argents, mas não vimos o assunto ser aprofundado até agora.
Gravura encontrada por Allison durante sua pesquisa
O aparecimento desse novo lobisomem justifica o retorno de Chris (J. R. Bourne) e Gerard (Michael Hogan) à Beacon Hills. Provavelmente eles serão de ajuda e ganharão relativa importância na temporada, além de contarem em mais detalhes a relação entre os Argents e Lá Bête.
A Besta de Gevaudan - A França aterrorizada por uma fera sanguinária
Entre os anos de 1764 e 1767 os habitantes da pequena província francesa de Gevaudan - atualmente parte de Lozere, próximo das Montanhas Margueride, foram aterrorizados por uma horrível criatura lupina que passou a ser conhecida como La Bête du Gevaudan ou "A Besta de Gevaudan".
A criatura foi descrita como um monstro semelhante a um lobo, mas muito maior dos que qualquer lobo que já havia vagado pela região, sendo quase do tamanho de uma vaca ou de um burro. Suas patas eram dotadas de garras afiadas, a pelagem era escura como a noite, a cabeça maciça semelhante a um mastim com orelhas pequenas e retas, além de uma boca excepcionalmente grande, repleta de enormes presas. Mais do que uma aparência medonha, a criatura parecia dotada de uma maldade inerente que a impelia a matar pelo simples prazer de fazê-lo, não apenas para se alimentar ou defender.
Acredita-se que até seu reinado de terror se encerrar, a Besta de Gevaudan tenha matado algo entre 60 e 100 homens, mulheres e crianças, deixando ainda um saldo de mais de trinta feridos. Atestar a veracidade desses números, é claro, constitui uma tarefa impossível, mas ao certo se sabe que o caso realmente aconteceu e que o número de vítimas foi elevado uma vez que causou comoção em todo país, vindo a ser conhecido em outras partes da Europa.
O primeiro encontro relatado com a fera aconteceu em maio de 1764 na floresta de Mercoire próximo de Langogne na porção oriental de Gevaudan. Uma jovem que cuidava de seu rebanho de gado percebeu uma forma escura espreitando em meio aos arbustos. Ela contou que a fera saltou da mata investindo contra os animais, mas os touros conseguiram mantê-lo à distância com seus chifres. A criatura atacou por uma segunda vez lutando contra os touros, um comportamento incomum para um lobo, mas foi repelida novamente. Os animais conseguiram ganhar tempo suficiente para a mulher apavorada escapar e chegar até seu vilarejo, onde ela contou o que havia acontecido. Os homens da vila se armaram e foram até o local, encontrando alguns animais feridos, mas nenhum sinal do lobo.
Apenas um mês depois, o lobo apareceu novamente. Dessa vez o ataque terminou em tragédia, com a morte de uma menina que não conseguiu escapar da fera. O corpo da criança foi encontrado próximo a um córrego onde ela havia ido encher um cântaro de água. Ela havia sido horrivelmente mutilada e seu coração, segundo as estórias, fora devorado pela fera.
Nos meses que se seguiram a região mergulhou em um clima de apreensão à medida que o enorme lobo negro prosseguia em sua matança, parecendo ter desenvolvido um gosto especial por mulheres, crianças e homens solitários que se embrenhavam na floresta para cuidar de seus animais pastoris. A forma como a fera atacava também era incomum para um predador, pois ele visava a cabeça se suas vítimas, ignorando os braços e pernas, áreas em que lobos tendem a se concentrar. As vítimas que não eram inteiramente devoradas ou desapareciam sem deixar vestígios, eram encontradas com suas cabeças despedaçadas ou completamente removidas de seus corpos, algo que nunca se tinha ouvido falar até então.
Em virtude do grande número de ataques e vítimas fatais, alguns começaram a suspeitar que haveria mais de uma fera, um par ou quem sabe até uma alcateia dos temíveis animais. De fato, algumas testemunhas relatavam ter avistado a fera no momentos em que ela era vista em outro lugar. Alguns também diziam ter visto o enorme lobo andando com outros animais menores que ele parecia liderar. Os relatos se multiplicavam e um estranho boato começou a se espalhar: o de que a fera seguia as ordens de um homem misterioso todo vestido de couro preto que apontava as pessoas que a fera deveria matar. Para alguns era um nobre decadente que tornava o assassinato seu esporte, para outros era o próprio diabo.
A medida que a Besta de Gevaudan continuava a matar sistematicamente, as pessoas começaram a acreditar que por trás das suas ações havia algum componente sobrenatural. Caçadores perdiam o rastro da fera no meio da floresta, armadilhas eram ignoradas, armas pareciam negar fogo e os mateiros não entendiam como um lobo tão grande era capaz de se esquivar de todas as buscas. A habilidade da criatura em sobreviver a todas as tentativas de eliminá-la e o fato dela preferir matar mulheres parecia algo claramente sobrenatural. Os camponeses passaram a acreditar que não estavam enfrentando um simples lobo, mas um loup-garou, um lobisomen. Apesar de todas as providencias para aumentar a segurança erguendo cercas e acendendo tochas durante a noite, não havia sinal da fera diminuir a sua sede de sangue.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjqeXCpbCt5tQ60GQxjrxgvYDt11jIlnecgMK9xHj8vpi5mK2aiOwFaNunosFHleTDYyrpibIYfLvOhIwuaJ0mYhR0e05MklOkGbmotAy9S1XFoIZwL3gA7FxRwDdYlgF5W5dyFdjNYs64/s400/Gev2.jpg)
Em outubro de 1764 dois caçadores encontraram a besta na floresta e atiraram contra ela a uma distância de apenas dez passos. Eles atingiram a criatura quase à queima roupa e conseguiram derrubá-la, mas antes que eles pudessem recarregar os mosquetes para uma segunda salva, ele se ergueu e correu para o bosque. Os caçadores juraram ter acertado a fera, mas contaram que as balas não foram capazes de matar a besta imbuída de uma resistência, obviamente diabólica. Uma vez tendo contado o que havia acontecido, organizou-se um grupo de caça que encontrou facilmente os rastros de sangue adentrando o bosque, exatamente no local em que os homens haviam alvejado a criatura. Diante da quantidade de rastros, todos acharam que seria questão de tempo até encontrarem a carcaça da fera em algum ponto da floresta. Os homens entraram na parte mais profunda da mata, onde descobriram vários corpos de vítimas até então desaparecidas, mas nenhum sinal da fera responsável por aquele massacre. Quando se preparavam para retornar, o lobo surgiu sorrateiramente, investindo contra os homens e fazendo mais quatro vítimas fatais. Os sobreviventes contaram que dispararam inúmeras vezes, acertando o alvo, mas cada vez que a besta era baleada, se levantava para atacar novamente. Aterrorizados, os homens fugiram sem olhar para traz.
Depois disso, o pânico se instalou de vez na região. As estórias sobre as façanhas da fera se espalharam, carregadas por caçadores, mercadores e viajantes. Logo não havia um caçador na França que não tivesse ouvido falar da maligna Besta de Gevaudan. Várias beats se formaram, grupos de caçadores compostos de vários homens, a pé ou montados, armados com mosquetes potentes, longas lanças de caça e mastins farejadores.
O chefe da milícia local, o Capitão Duhamel foi incumbido pelo próprio Rei Luis XV de encontrar e eliminar a ameaça responsável por deixar os camponeses em um estado de terror tamanho, que colocava em risco as colheitas. Duhamel organizou uma enorme grupo de voluntários formado por dezessete caçadores experientes montados à cavalo, um estoque de mais de 40 mosquetes previamente carregados e uma parelha de mais de trinta cães de caça. O grupo chacinou todos lobos que viviam na região. Segundo contas, mais de 200 animais foram mortos, mas nenhum deles se parecia com a elusiva Besta de Gevaudan.
Os caçadores espalharam armadilhas pela floresta, deixaram ovelhas em lugares acessíveis vigiados noite e dia, aguardaram e chegaram até a vestir alguns com roupas de mulher para tentar atrair a fera. Mas nenhuma dessas estratégias logrou êxito.
Finalmente em novembro, o grupo de Duhamel avistou a fera e a perseguiu pela floresta, mas a perdeu em uma área onde os cavalos não conseguiram adentrar. Seguindo à pé, os implacáveis caçadores não se renderam e depois de encontrar com o enorme lobo em uma clareira dispararam contra ele supostamente o alvejando repetidas vezes. Ainda assim, a fera conseguiu escapar para dentro do bosque. O grupo acreditando que o animal não poderia sobreviver a todos os ferimentos infligidos retornou a Gevaudan onde foram recebidos como heróis.
Dias se passaram sem nenhuma notícia da fera, até que no final de dezembro, perto do Natal, mais uma mulher desapareceu. O grupo de busca localizou os seus restos terrivelmente mutilados em uma ravina: o pesadelo continuaria. A credibilidade do Capitão Duhamel caiu por terra e ele foi destituído depois que um dos seus homens de confiança quase foi linchado por uma multidão furiosa.
Em Paris, as notícias foram recebidas com reprovação. Críticos da monarquia diziam que a fera estava fazendo o Rei de tolo e que o monarca não era capaz de cuidar da segurança de seus súditos e se livrar de um simples animal selvagem. Insuflando os rumores, alguns afirmavam que um nobre renegado estava por detrás das mortes, controlando um lobo selvagem. Para outros, o tal nobre seria o próprio lobo demoníaco, no qual se transformava nas noites de lua cheia.
Uma recompensa foi prometida para quem matasse a fera e apresentasse o seu corpo. Um emissário real viajou até a região de Gevaudan levando a notícia de que o caçador que eliminasse a fera receberia uma verdadeira fortuna. O Rei ordenou que a Fera de Gevaudan fosse morta e seus restos expostos em Paris como forma de acalmar a população.
O montante oferecido atraiu não apenas caçadores da França, como homens de todas as partes da Europa que convergiram para Gevaudan ávidos pela glória e pela riqueza. A caçada durou meses, e mais de cem lobos foram abatidos, mas nenhum deles foi reconhecido como sendo a fera responsável por aquela situação. Os habitantes locais estavam cansados da presença de tantos estrangeiros comendo a sua comida, remexendo os campos e invadindo suas propriedades. Alguns caçadores agiam de má fé tentando ludibriar as autoridades reais. Um homem chegou a apresentar a carcaça de um animal estranho e incomum, alegando que havia abatido a criatura após uma épica caçada. O mestre de caça, reconheceu os restos pelo que eles de fato eram, uma hiena, que aparentemente havia sido trazida do norte da África.
Após a morte de duas crianças em tenra idade, o Rei comovido pela situação, contatou um normando chamado Denneval, que fora Guarda Caça de um marquês e que tinha a reputação de ser o maior caçador da França. O monarca depositou no sujeito suas últimas esperanças e prometeu a ele um título de nobreza caso fosse bem sucedido na perigosa empreitada.
Em fevereiro de 1765. Denneval chegou a região de Gevaudan acompanhado de cinco ajudantes de sua inteira confiança, sendo um deles um nativo americano que ele havia encontrado em uma expedição a colônia de Manitoba e que era famoso pelas suas qualidades como rastreador. A entourage contava ainda com um verdadeiro arsenal de 50 mosquetes militares pesados, lanças com mais de dois metros de comprimento, bestas que disparavam setas de ferro, bombas explosivas de pólvora negra, armadilhas e correntes para capturar ursos e outros equipamentos modernos. Os homens do Guarda Caça, usavam armaduras negras de couro batido e eram uma visão aterrorizante, em especial o selvagem do Novo Mundo com o cabelo moicano e pintura de guerra. Denneval vestia uma armadura de couro e metal cheia de espinhos e dizem havia matado uma loba no cio e espalhado seu sangue em todo traje. O fedor que exalava era nauseante, mas ele estava confiante de que isso atrairia a presa.
O grupo de Denneval logo ganhou a companhia do jovem Jacques Denis, um rapaz de dezesseis anos que conhecia como ninguém a floresta e que provou não estar intimidado pela tarefa e nem pela aparência do bando. Jacques explicou que desejava se vingar da fera uma vez que ela havia matado sua irmã mais velha meses antes. O rapaz havia testemunhado o horrível ataque e visto o corpo sem vida da irmã ser arrastado como um boneco para a floresta de onde jamais foi recuperado. O rapaz foi aceito na companhia dos caçadores que vasculharam cada canto da floresta. O plano de Denneval era forçar a fera para cada vez mais perto de Gevaudan a fim de fazer o abate.
Em meados de maio, o plano do Guarda Caças teve êxito, mas não da maneira que ele esperava. A fera foi atraída para a cidade, durante as comemorações da Feira da Primavera. Durante seu ousado ataque, a besta matou várias pessoas incluindo uma jovem de nome Marguerite, que estava enamorada de Jacques Denis. Furiosos, aldeões se armaram com ferramentas, paus, pedras e qualquer coisa que pudessem usar como arma para matar o monstro. Jacques e um grupo penetrou na floresta seguindo o rastro do lobo, mas acabou caindo em uma armadilha. Os homens acabaram morrendo e se não fosse a chegada providencial de Denneval e seus homens, Jacques também teria sido morto pela fera. Apesar de sobreviver, diz a lenda que os cabelos do rapaz ficaram totalmente rancos e que ele pareceu envelhecer décadas com a experiência. Pouco depois desse ataque, que teria deixado mais de doze mortos, Denneval desistiu da perseguição.
"Não há o que fazer" teria escrito ao Rei se desculpando. Ele continuou: "A fera nos iludiu a entrar na floresta a fim de atacar impunemente o vilarejo. Claramente estamos diante de algo que desafia a razão e que age impelida pelo desejo de matar. Temo que nossa presença aqui apenas a torna mais selvagem e vingativa".
Perturbados pela desistência do Guarda Caça, a maioria dos caçadores também partiram. Livre para agir impunemente, a fera prosseguiu impiedosa. Ele matou um rapaz de quatorze anos e uma mulher que carregava um recém nascido. Furioso com a carta do Guarda Caça, o Rei ordenou que Denneval fosse trazido à sua presença, mas ele escapou para outro país desaparecendo da história. Um dos conselheiros de Luis XV indicou um homem para assumir o lugar do Guarda Caça, seu nome era Antoine de Beauterne, um renomado taxidermista parisiense que havia caçado todo tipo de presa na Europa e na África.
Beauterne chegou sem estardalhaço e fez aparentemente pouco no início. Explorou a floresta, desenhou mapas e assinalou neles onde a besta havia sido vista. Em uma de suas expedições encontrou com o nativo de Manitoba que ficou para traz após a desistência de Denneval. O homem, que passou a ser chamado de Mani, ofereceu suas habilidades como rastreador.
Em 21 de setembro, Beauterne organizou um grupo de caça formado por quarenta caçadores locais especialmente escolhidos para a tarefa, e uma dúzia dos melhores cães farejadores. Unindo o seu conhecimento do terreno aos valiosos conselhos de Mani, os homens se concentraram em uma área rochosa isolada, repleta de ravinas próxima ao vilarejo de Pommier. Parecia lógico para o taxidermista que o lobo usasse esse lugar, cheio de cavernas como covil por ele proporcionar um bom esconderijo e dispor de água potável. O plano era levar a caçada até um lugar em que a fera se sentisse segura, e onde ela não esperava ser confrontada.
Logo que chegaram ao local os cães captaram um cheiro e começaram a latir como loucos. Não demorou para a besta emergir de uma caverna para investigar. Um dos homens deu alerta e Beauterne disparou seu mosquete acertando em cheio o dorso da fera. Ela ainda saltou derrubando um dos homens, mas imediatamente os outros abriram fogo crivando o lobo com tiros certeiros. Um deles teria arrancado seu olho esquerdo e se alojado no crânio. A criatura ganiu e caiu morta, mas enquanto os homens comemoravam, ela de repente se ergueu e investiu novamente com uma ferocidade sobrenatural. Uma segunda saraivada de balas foi disparada e finalmente a fera acabou tomando. O golpe final foi desferido por Mani. Armado com uma afiada machadinha o nativo saltou sobre a fera, sua arma descreveu um giro no ar e caiu pesadamente despedaçando o crânio da besta. Aproximando-se cautelosamente os homens se colocaram a golpear a carcaça com baionetas e lanças compridas até reduzi-lo a uma coisa grotesca e sanguinolenta.
Os caçadores amarraram o que havia restado da fera em um estrado e o arrastaram até Pommier. Beauterne examinou cuidadosamente os restos da fera e concluiu que se tratava de um magnífico lobo medindo um pouco mais do que 1,80 m e pesando algo em torno de 90 quilos, com uma boca cheia de presas com mais de uma polegada de comprimento. Beauterne tentou preservar a criatura a fim de levá-la até o Rei, mas apesar de seus esforços, a carcaça havia recebido muitos danos durante a caçada. Tudo o que ele conseguiu salvar foram as orelhas, os dentes e o rabo, todo o resto foi queimado e enterrado nos arredores do vilarejo.
Por mais de um ano, as coisas ficaram tranquilas em Gevaudan e a vida foi voltando ao normal. Então, na primavera de 1767 as mortes reiniciaram. Duas crianças haviam desaparecido e o corpo de uma mulher sem a cabeça foi achado em um descampado. Beauterne foi chamado para retornar a Gevaudan, mas ele afirmou que aquelas mortes não eram o trabalho de um lobo, e sim de um maníaco.
Em 19 de junho do mesmo ano, um nobre local, o Marques d'Apcher organizou a maior beate já vista para encontrar o rastro do animal. Mais de trezentos homens a pé e montados vasculharam cada centímetro do bosque. Nada foi encontrado.
Na época, um homem misterioso chamado Jean Chastel passava pela região. Ele era um conhecido de Jacques Denis e se ofereceu para exterminar a fera. Ao contrário dos outros ele não era um caçador experiente, mas um especialista em folclore e superstições. Chastel afirmava que o responsável pela nova onda de mortes não era um simples lobo, mas uma besta sanguinária aprisionada no corpo de um homem. A luz fazia com que a fera no interior do culpado viesse à tona com um incontrolável desejo de matar. O espírito do lobo de Gevaudan havia contaminado esse homem o transformando em um assassino. Ele era um loup-garou.
O especialista conseguiu convencer as pessoas de Gevaudan a doar objetos de prata e quando tinha o suficiente mandou derreter tudo a fim de produzir projéteis que foram abençoadas pelo pároco local. O plano de Chastel era atrair o lobisomen para os limites do bosque. Ele preparou o lugar cuidadosamente e acompanhado de Denis recitou uma série de orações. Na alta madrugada, os dois perceberam movimento na mata e ficaram alerta. De repente uma besta em forma de lobo irrompeu da floresta e avançou na direção dos dois. Chastel disparou com suas pistolas e os projéteis de prata pura vararam o corpo da besta que caiu fulminada.
Assim como a fera morta por Antoine de Beauterne essa criatura era um enorme lobo, consideravelmente maior do que os outros que habitavam a floresta. O monstro foi estripado e dentro dele encontrou-se os restos de uma criança que havia desaparecido na véspera. A besta foi embalsamada e levada de cidade em cidade para que as pessoas pudessem vê-la, em troca de uma pequena contribuição, é claro. Infelizmente para a ciência moderna, os métodos de preservação da época não eram bons o bastante e o que restou da fera acabou chegando até Paris em um estado deplorável. O fedor incomodou o Rei de tal forma que ele ordenou que os restos fossem levados de sua presença imediatamente. Há informações contraditórias a respeito do que aconteceu com a Besta então. Para alguns ela foi queimada e suas cinzas espalhadas ao vento, apesar dos protestos de Chastel. Outros dizem que a carcaça chegou a ser levada até o genial taxidermista Beauterne que restaurou a fera e a vendeu para um nobre colecionador.
Seja como for, os restos da lendária Besta de Gevaudan jamais foram recuperados, causando mais de dois séculos de controvérsia a respeito de sua real identidade. Em 1960, após estudar a transcrição de Antoine de Beauterne a respeito do processo de dissecção da fera por ele abatida, uma comissão de zoólogos concluiu que o animal descrito era realmente um lobo. Franz Jullien, taxidermista do Museu Nacional de História Natural de Paris, encontrou amostras dos dentes da Besta de Gevaudan guardadas no arquivo do Museu e as submeteu a testes, concluindo que se tratavam realmente de presas de um lobo de grande porte. Em 1979, restos de um animal empalhado foram encontrados guardados no depósito do museu em uma caixa. Segundo boatos, seriam os restos do espécime que Jean Chastel abateu com suas balas de prata. O animal foi aparentemente identificado como uma hiena nativa do Norte da África, Oriente Médio, Paquistão e Oeste da India.
Seria a Besta de Gevaudan uma enorme hiena e não um lobo? A ideia foi contemplada entre outros pelo novelista Henri Pourrat e pelo naturalista Gerard Menatorv que propuseram a hipótese de uma hiena ter sido trazida por negociantes de naimais e uma vez recusada em um zoológico, libertada na floresta. Há ainda outra hipótese que coloca em xeque a credibilidade de Jean Chastel. Segundo rumores, o pai de Chastel possuía uma hiena em sua menageria (um termo do século XVII usadopara coleções de animais mantidos em cativeiro). Alguns pesquisadores acreditam na possibiliadde de Jean Chastel ter inventado a estória a respeito do loup-garou e usado a hiena que pertencia a menagerie de seu pai para se auto-promover.
Isso levanta a questão a respeito de quem seria então o responsável pelas mortes após Beauterne ter eliminado o grande lobo. Para alguns, Chastel ou alguém muito próximo a ele teria deliberadamente assassinato inocentes para criar a impressão de que a Besta ainda vagava por Gevaudan fazendo vítimas. Para muitos, o misterioso Chastel era um homem de moral dúbia, ganancioso e ávido por riquezas. Uma das razões pelas quais o Rei Luis XV se negou a recebê-lo foi justamente por ele ter tentado vender ao monarca, por um preço exorbitante, os restos da fera abatida. Chastel morreu em relativa obscuridade, mas não é totalmente surpreendente que alguns afirmem que ele teria se tornado um algoz da nobreza e que desempenhou o papel de perseguir nobres após a Revolução.
É claro, tudo isso é mera especulação uma vez que não há como determinar historicamente se houve mais de uma Besta de Gevaudan. O que se sabe é que o sentimento de terror que tomou conta da região entre 1764 e 1767 foi muito bem documentado na época. A população de lobos também foi drasticamente reduzida chegando praticamente a extinção por conta das caçadas empreendidas naqueles três anos.
O que levou um lobo a emergir das floresta para matar indiscriminadamente os habitantes de uma pequena província na França continua sendo um mistério. Mas um marco de pedra foi construído no local, lembrando a todos daqueles dias de medo.
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